PERGUNTAS EFETIVAS PARA CASAIS

Mara Lins

 

A arte da psicoterapia conjugal é auxiliar o casal a encontrar uma vida significativa e alcançar as mudanças desejadas, conforme suas contingências. Uma das características das terapias comportamentais contextuais é o trabalho voltado a valores, e este, na terapia de casal, representa que cada cônjuge seja o(a) parceiro(a) que deseja ser na relação. Este processo é complexo, e o que mais pode auxiliar são perguntas que auxiliem na reflexão. Sendo assim, após muito aprendizado com Neil Jacobson, Andrew Christensen e Brian Doss (autores da Terapia Comportamental Integrativa de Casal – IBCT), com Russ Harris, Robyn Walser, Steve Hayes, Kelly Wilson, Kirk Strosahl (Terapia de Aceitação e Compromisso – ACT), Kevin Polk (ACT-MATRIX) e Mavis Tsai e Robert Kohlember (Psicoterapia Analítica Funcional – FAP) selecionei e compartilho aqui, de uma maneira informal, minhas perguntas prediletas.

 

Um dos principais aspectos é o casal se dar por conta de que ambos parceiros interagem e mantêm determinado funcionamento, mesmo que seja aversivo. As perguntas que podem auxiliar o casal a perceber seu padrão de interação podem auxiliar numa análise funcional, ou o modelo ABC (Antecedent-Behavior-Consequence) que seriam as condutas Antecedentes (gatilhos), Comportamento e Consequências para o casal, visto que na relação conjugal, um cônjuge é o contexto do outro (Christensen, Doss, & Jacobson, 2018; Doss et al, 2005). Sugestões de perguntas para avaliar o modelo ABC:

 

-Quais são os problemas que mais geram mal-estar em vocês? Há algum destes temas que sejam ‘históricos’? Ou seja, a mesma `velha briga` retorna muito?

-O que você tentou fazer para mudar? Mudou?

-Como vocês costumam fazer para resolver problemas?

-De que jeito você fala durante uma briga? Você é realmente escutado(a) nestes momentos?

-Há algo que você esteja fazendo que é verdadeiramente inaceitável? Se sim, o que é e como você poderia mudar e reparar? Há algo que seu(sua) parceiro(a) esteja fazendo que é verdadeiramente inaceitável? Se sim, o que é e como ele(a) poderia mudar e reparar?

-Se o seu(sua) parceiro(a) faz algo que realmente faz diferença para você, como você vai deixá-lo(a) saber disso?

-De que forma você se comunica? Você confere o que a outra pessoa entendeu acerca do que você falou?

-Quais coisas legais/boas você fez esta semana para seu relacionamento?

 

Perguntas que podem auxiliar no processo de Atenção Plena:

-Aqui e agora, neste momento, o que você pensa sobre seu relacionamento? O que você sente quando pensa sobre sua relação? Onde no seu corpo você percebe a sensação? Se esta sensação pudesse falar, o que diria para seu(sua) parceiro(a)?

 

Perguntas que podem auxiliar no processo de Desfusão (ACT-Harris, 2009; Hayes, Strosahl & Wilson, 2011) ou Distanciamento Unificado (IBCT-Jacobson & Christensen, 1998):

-Com quais pensamentos, sentimentos, sensações ou memórias acerca da relação você está fusionado(a)? O que não sai da sua mente? É o mesmo que está na mente do seu(sua) parceiro(a)?

-Qual é o problema segundo o ponto de vista de cada um?

-Você poderia exemplificar com um evento recente o que representa a(s) questão(s) principal(s) do conflito de vocês?

-O que você tentou fazer até agora para corrigir isso? Como funcionou? Quais custos emocionais você teve ao fazer isso?

-O que você fez que contribuiu para que essa questão melhorasse ou piorasse?

-Nos velhos e bons tempos, qual é a história do relacionamento? Como vocês se conheceram? O que mais atraiu você?  O que de sua parte foi atrativo para o(a) outro(a)? O que você valorizava na sua relação naquela época? E atualmente?

-Em relação ao problema de vocês:

  • Quais julgamentos sua mente faz sobre ele?
  • O que acontecerá se você definitivamente acreditar nesses julgamentos como única verdade?
  • Você está fazendo o julgamento de que esta situação é (descreva a situação)………………………………………

 

-Outro ponto de vista para o problema: Como posso crescer a partir disso? O que posso aprender com isso? Imagine que seu(sua) parceiro(a) é um professor: qual é a lição que se pode aprender com a situação?

-Quem tem razão? Quem está equivocado(a)? A partir de qual ponto de vista? O que acontece com a relação enquanto se disputa pela razão? Aproxima ou afasta o casal?

-O que é uma boa relação? E como é quando a relação parece repulsiva?

-Se o problema que vocês experimentam pudesse ser metaforicamente personificado, como seria? Se o problema pudesse ter vontade própria, o que ele deseja? Quando vocês estão discutindo, onde está o problema? O que ele estaria conseguindo? O que acontece quando o problema vence? O que acontecerá quando o casal vencer o problema?

 

Perguntas que podem auxiliar no processo de Eu Contexto:

-Além de uma característica específica da qual você se queixa do seu(sua) parceiro(a), quem mais ele(a) é? Além de uma característica que você não gosta em si mesmo(a), quem mais você é?

 

Perguntas que podem auxiliar na reflexão acerca dos Valores para o casal:

-Que tipo de relação você quer construir? Que tipo de parceiro(a) você quer ser?

-Como você seria como um(a) parceiro(a) reativo(a)? Como você seria como um(a) parceiro(a) ideal?

-Numa relação real, como deveria ser seu(sua) parceiro(a)? Como você deveria ser?

-Vamos imaginar sua festa de 80º aniversário, um momento lindo. Seu(sua) parceiro(a) dará um discurso sobre vocês. O que você quer que ele(a) diga sobre você?

 

Perguntas que podem auxiliar no processo de Aceitação

-Você permite que seus pensamentos, sentimentos, sensações e memórias possam ser vividas como são? Ou evita quando há desconforto? O que acontece depois?

-O que definitivamente está no seu controle, e o que não está?

-Você sabe como seu(sua) parceiro(a) foi criado? Ou seja, qual a aprendizagem ele(a) teve acerca de relações conjugais?

-Há algo que você tentou mudar e não teve êxito, e que seria melhor aceitar? Por exemplo, a maneira como seu/sua parceiro é diferente de você ou alguma característica específica?

-Você gostaria de se sentir aceito como é? E há algo que você tem a expectativa que mude no seu(sua) parceiro que vá contra a ideia de aceitá-lo(a) como ele(a) é?

-Existe um(a) parceiro(a) perfeito(a)? Você é perfeito(a)?

-Você sempre age do jeito que você espera e deseja agir?

-Se você pudesse ter uma escolha:

  1. a) Não ter sentimentos dolorosos, mas também não ter capacidade de amar ou cuidar;
  2. b) Ter amor pelas pessoas e se importar, mas isso significar que, às vezes, você terá sentimentos dolorosos – o que você escolheria?

 

Perguntas que podem auxiliar nas Ações de Compromisso:

-Em uma escala de 1-10, 1 seria sair e 10 seria ficar na relação. Com qual pontuação você se vê nesse relacionamento?

-Em uma escala de 1-10, 1 seria não investir e 10 seria fazer de tudo para melhorar a relação. Qual pontuação representa o trabalho que você está disposto(a) a fazer para melhorar o relacionamento?

-Qual seria um pequeno passo que você poderia dar para melhorar a relação? Uma coisa pequena que você poderia fazer?

-Todos cometemos erros, somos humanos… Se você acha que pode ter feito algo que possa ter machucado seu(sua) parceiro(a), qual o menor passo que você poderia tomar para reparar alguns dos danos?

 

No diagrama MATRIX (Polk & Schoendorff, 2014) poderíamos seguir o seguinte circuito:

-Quem ou o quê é importante para a relação conjugal?

-Quais obstáculos internos afastam do que é importante para o relacionamento? -No mundo da mente, quais pensamentos, sensações, sentimentos que lhe impedem de ir em direção ao que é importante?

-O que você faz quando surgem esses obstáculos internos? Resolve? Quais as consequências em curto prazo? Em longo prazo?

-O que você fez/faz/faria para ir em direção ao que é importante?

-Mesmo com os obstáculos internos, o parceiro que você quer ser faria o quê?

Por fim, algumas perguntas da FAP (Kohlenberg & Tsai, 1991) que também podem auxiliar para refletir sobre a relação conjugal:

-Você desejaria poder estar com alguém com quem pudesse compartilhar o quê?

Diga algo que você realmente gosta da pessoa com quem forma um casal. Tente dizer algo que normalmente não diz:……………………………………………….

-Complete esta frase: “Se meu(minha) parceiro(a) realmente me conhecesse, deveria saber que…………………………………………………………………………………”

-Se você fosse morrer hoje, sem oportunidade de se comunicar com seu(sua) parceiro(a), o que você mais se arrependeria de não ter falado para ele(a)? Por que você não disse isso ainda?

Espero que estas perguntas ajudem a pensar no(a) parceiro(a) que se quer ser numa relação conjugal e que ajude a movimentar para ações nesta direção!

 

Referências

Christensen, A., Doss, B. D., & Jacobson, N. S. (2018). Diferenças Reconciliáveis: reconstruindo seu relacionamento ao redescobrir o parceiro que você ama, sem se perder (2a ed.; M.R.S.W. Lins & M. Rozman, Trads.). Novo Hamburgo: Sinopsys.

Doss, B. D., Thum, Y. M., Sevier, M., Atkins, D. C., & Christensen, A. (2005). Improving Relationships: Mechanisms of Change in Couple Therapy. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 73(4), 624-633. doi: 10.1037/0022-006X.73.4.624

Harris, R. (2009). ACT with Love: Stop Struggling, Reconcile Differences, and Strengthen Your Relationship with Acceptance and Commitment Therapy. Oakland: New Harbinger Publications.

Hayes, S. C., Strosahl, K. D., & Wilson, K. G. (2011). Acceptance and commitment therapy (2nd ed.). New York: Guilford.

Jacobson, N. S., & Christensen, A. (1998). Acceptance and Change in Couple Therapy: A Therapist’s guide to Transforming Relationships. New York: Norton.

Kohlenberg, R. J., & Tsai, M., (1991). Functional analytic psychotherapy: Creating intense and curative therapeutic relationships. New York: Springer Science & Business Media.

Polk, K. & Schoendorff, B. (2014). The ACT – MATRIX A New Approach to Building Psychological Flexibility Across Settings & Populations. Oakland: New Harbinger Publications.

Walser, R., & Westrup, D. (2009). The Mindful Couple – How Acceptance and Mindfulness Can Lead to the Love You Want. Oakland: New Harbinger Publications.

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Sobre o Autor
Mara Lins
CRP 07/05966 Psicóloga. Doutora em Psicologia Clínica (UNISINOS). Mestre em Psicologia Social (PUCRS). Especialista em Terapia de Casal e Família (CEFI). Treinamento em Terapias Comportamentais Contextuais. Treinamento em Terapia Comportamental Integrativa de Casal (Integrative Behavioral Couple Therapy-IBCT) com Andrew Christensen e sua equipe. Professora e Supervisora de cursos de pós-grad... ver mais

2 comentários em “PERGUNTAS EFETIVAS PARA CASAIS”

  1. Excelente material. Não.conhecia seu trabalho. Estou querendo.me especializar em.atender casais e agora vou te seguir para aprender .show de bola!

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