Assim como doenças clínicas, as crianças podem desenvolver enfermidades psíquicas como ocorre na população adulta. Os transtornos mais comuns nesta faixa etária são episódios depressivos, transtornos ansiosos, déficit de atenção e/ou hiperatividade e transtornos de conduta. A prevalência de transtornos mentais nesta população fica em torno de 7 a 12%. Em média, os índices podem chegar a 30% para a maioria das enfermidades prevalentes neste grupo. Diversos fatores podem influenciar no aparecimento e desenvolvimento de sintomas na infância, desde fatores genéticos e biológicos até fatores ambientais e sóciodemográficos. O tratamento para muitos destes transtornos pode envolver o uso de psicofármacos, e algumas famílias sentem-se inseguras de aderir à farmacoterapia, com receio dos riscos de efeitos colaterais ou de mitos sobre uso nesta fase da vida.
Abaixo seguem 3 mitos relacionados ao uso de psicofármacos na infância:
- Mito: Criança não pode usar antidepressivo.
- Verdade: A infância é uma etapa da vida na qual vários estressores podem surgir cursando com o aparecimento de sintomas depressivos e ansiosos significativos, que podem promover prejuízo e deterioro – inclusive limitando a criança às suas atividades normais como ir à escola, participar de atividades, entre outros. Transtornos depressivos e ansiosos são bastante prevalentes nesta população e tendem a aumentar conforme a idade, podendo chegar a 30%, taxa semelhante à população adulta. O sofrimento decorrente destes sintomas pode promover limitação importante na realização de atividades, podendo cursar com diminuição de rendimento escolar até perda do ano letivo, se medidas preventivas e de tratamento não forem rapidamente instauradas. A indicação formal de uso de antidepressivo na infância dá-se quando há prejuízo. Diversos antidepressivos podem ser usados para o tratamento de síndromes ansiosas e depressivas e o uso destes fármacos pode ser breve, por volta de 6 meses, dependendo do caso. Sertralina, Paroxetina, Fluoxetina são antidepressivos seguros e amplamente utilizados para o tratamento destes sintomas.
- Mito: Criança não pode usar metilfenidato.
- Verdade: Assim como nas síndromes ansiosas, a prevalência do transtorno de déficit de atenção e/ou hiperatividade é bastante significativa, e a maior taxa de diagnóstico dá-se neste período em virtude dos sintomas que são bastante característicos. Como eu sempre enfatizo, a infância e suas particularidades não devem ser medicadas. Existe uma parcela importante de “hiper diagnósticos” e patologização da infância no que se refere a comportamentos desafiadores e de transposição de limites que, muitas vezes, são estigmatizados e nada mais são do que características das crianças em resposta às características do meio, da família e que podem ter indicação de psicoterapia individual e familiar. A introdução de estimulantes como o metilfenidato deve ser avaliada de forma criteriosa e acurada pelo profissional, seja ele psiquiatra ou neurologista, e a prescrição pode ocorrer quando a criança fecha os critérios diagnósticos para TDAH, do contrário, não. Além do metilfenidato, os antidepressivos tricíclicos como Amitriptilina, Imipramina e Nortriptilina também podem ser usados com segurança, promovendo resultados satisfatórios para a criança.
- Mito: Criança não pode usar antipsicótico ou estabilizador do humor.
- Verdade: Crianças podem apresentar quadros depressivos graves, de impulsividade e transtornos psicóticos que podem cursar, com agressividade verbal e física, agitação psicomotora, alucinações e delírios. Em virtude do prejuízo e priorizando o bem estar deste indivíduo, muitas vezes, faz-se necessária a introdução de psicofármacos que promovam maior contenção dos impulsos e consequente estabilização dos sintomas. Risperidona é um antipsicótico bastante prescrito na infância apresentando resultados significativos quando indicado. Carbamazepina e Ácido Valpróico são estabilizadores também bastante indicados para quadros de impulsividade, podendo inclusive serem usados para sintomas relacionados a transtornos de conduta.
Para maior entendimento do que ocorre e para o cuidado da criança, em caso de algum sintoma tal qual: ansiedade, impulsividade, apatia e falta de prazer nas coisas, agressividade, agitação psicomotora, entre outros, esta deve ser avaliada rapidamente por um profissional, psiquiatra e/ou psicólogo, estes que avaliarão os sintomas em sua completude e farão as indicações e recomendações necessárias.