O AMOR NA IDADE MADURA E A TERAPIA COMPORTAMENTAL INTEGRATIVA PARA CASAIS (IBCT)

Os amantes em idade madura têm a sorte de ter consciência de todas as experiências que viveram e uma serenidade de coração. Após muitas vivências conseguem entender melhor o amor como uma ligação de cumplicidade e alegria e não como uma conquista. Costuma-se dizer que o verdadeiro amor estará esperando por nós na maturidade, mas isso não é inteiramente verdade. Muitas vezes cometemos o erro de compará-lo com a intensidade das experiências da juventude, e esperar isso da vida madura.

Viver é aprender sobre tudo que passamos em cada fase. Podemos aprender algo do que foi vivido na juventude, seja certo ou errado, e trazer a experiência para o presente, na maturidade. Na juventude há energia infinita, vivemos sem filtro e com o tempo (e as vivências) vamos ficando mais seletivos e cautelosos, lembramos da intensidade daquele período da juventude, mas preferimos a calmaria, a segurança, uma vista do pôr do sol.

A Terapia Comportamental Integrativa para Casais (ou Integrative Behavioral Couple Therapy – IBCT) é uma abordagem das terapias contextuais que propõe, antes de iniciar um processo terapêutico conjugal, uma formulação do caso. Também chamada formulação DEEP (palavra que em inglês quer dizer profunda) para, utilizando um acrônimo com cada letra, realizar a avaliação das Diferenças entre o casal ( características de personalidade, desejo de intimidade, forma de lidar com conflitos); vulnerabilidades Emocionais (sensibilidades oriundas da história de aprendizagem, emoções profundas que podem ser reativadas em algum conflito conjugal); estressores Externos (fatores que a vida impões e não se tem controle sobre os mesmos) e Padrão de interação (maneira como o casal se comunica que pode se transformar noutro problema). Como seria uma avaliação da IBCT para um casal na idade madura?

D- Diferenças: os amores na idade madura não negligenciam a inocência ou a diversão, apenas não querem repetir velhos erros. Nesta etapa já se compreende muito bem que não existe metades de laranja e mais, que se pode ser laranja e abacate com experiências diferentes, que juntos podem dar mais cor à vida. Ou seja, cada um já conhece as próprias características de personalidade, como cada um maneja situações de estresse, como é o desejo de intimidade. São pessoas que já construíram sua identidade própria e, com a sabedoria e respeito acerca das diferenças entre todas as pessoas, estão dispostas a dar uma nova oportunidade, fazer uma releitura do amor.

E- Sensibilidades Emocionais: quando se tem mais idade, certamente a pessoa passou por muitas dores, cicatrizes e rugas. Adicionar anos nem sempre é ganhar bem-estar, pois há perdas e a necessidade de lidar com as dificuldades da vida. É importante estar atento para cultivar um equilíbrio emocional. Mas, ainda assim, a maioria das pessoas que entram na etapa final de suas vidas o fazem com maior integridade e uma atitude de vivenciar a vida, de promover qualidade na sua reta final voltada a uma experiência de vida que mostra força e amor próprio.

E- estressores Externos: Às vezes, quando os idosos decidem dar o passo para uma nova convivência amorosa, as críticas vêm de quem não os entende. Muitas vezes até os filhos acreditam que o fazem apenas por uma simples razão econômica ou para mitigar a solidão, ou mesmo por um capricho passageiro. A questão é que, seja qual for a razão, é um direito. Eles não são mais crianças e a sabedoria lhes dá mais segurança em suas ações e sentimentos. Eles não têm mais pesos emocionais de antes. Não ligam mais para a opinião alheia ou para os olhares dos estranhos. Não são egoístas nem pedem nada aos outros nem têm nada a provar. O único estressor externo que tem a aprovação de realmente preocupar nesta etapa da vida é o cuidado com a saúde.

P- Padrão de interação: o autoconhecimento também oferece a vantagem de observar o que funciona, ou não, num relacionamento. E a tolerância para lidar com os conflitos e diferenças pode auxiliar para se tentar uma e outra formas de comunicação, até fazer as escolhas sobre o que vale a pena, ou não, brigar e como encontrar um caminho de compreensão.

Por fim, as terapias contextuais trabalham muito com o conceito de Aceitação. A maioria dos jovens, além de desejar mudar seu(sua) parceiro(a), acredita que maturidade equivale à passividade e resignação, como se o amor e a paixão tivessem prazo de validade, como se não pudessem se dedicar ao amor por terem somado alguns anos. Isso é um erro. Na maturidade o amor pode ser vivido de uma forma muito mais clara e honesta. A realidade pode ser mais feliz por não haver expectativas irreais, é a serenidade da experiência. É um novo tipo de felicidade, pois é um período em que se pode experimentar um melhor bem-estar psicológico. Os amores da maturidade podem não ser tão apaixonados quanto os da juventude, mas sem dúvida são muito mais satisfatórios devido à consciência de ser desfrutado no aqui e agora, vivido no momento presente, sentido como se não houvesse amanhã.

Compartilhe

Sobre o Autor
Mara Lins
CRP 07/05966 Psicóloga. Doutora em Psicologia Clínica (UNISINOS). Mestre em Psicologia Social (PUCRS). Especialista em Terapia de Casal e Família (CEFI). Treinamento em Terapias Comportamentais Contextuais. Treinamento em Terapia Comportamental Integrativa de Casal (Integrative Behavioral Couple Therapy-IBCT) com Andrew Christensen e sua equipe. Professora e Supervisora de cursos de pós-grad... ver mais

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *