O que pode estar interferindo nas habilidades interpessoais?

As relações saudáveis contribuem de forma positiva para a saúde mental e qualidade de vida de todos nós. Sabemos que bons relacionamentos são capazes de melhorar o nosso dia a dia, prevenir quadros de sofrimento emocional e aumentar nossa sensação de conexão e pertencimento. Para iniciar relacionamentos e manter boas relações precisamos colocar em prática habilidades interpessoais.

Ao longo do nosso desenvolvimento criamos e experimentamos essas habilidades de forma intuitiva, pela observação de como as pessoas ao nosso redor se relacionam entre si e conosco e para atender às nossas necessidades individuais. Por exemplo, uma criança tem comportamentos, expressões e falas que permitem que ela expresse que está sentindo dor para um de seus cuidadores ou adultos que possam auxiliá-la.

Alguns fatores podem atrapalhar a aprendizagem ou aplicação das estratégias que já conhecemos. Para conseguirmos ser claros nos nossos pedidos, dizer não e comunicar nossas ideias e intenções de forma efetiva, precisamos saber como fazer isso. Pode ocorrer que não fomos ensinados ou não conseguimos observar pessoas ao nosso redor sendo hábeis nessa comunicação interpessoal. Para a comunicação se tornar efetiva é preciso conseguir expressar o que queremos, observar a resposta da outra pessoa e modificar o nosso comportamento a partir do que é observado.

Por vezes, não conseguimos obter o que precisamos em uma relação ou manter nosso auto respeito pois a pessoa que estamos nos relacionando tem intensas dificuldades em interações interpessoais. Por mais hábeis que sejamos em nos expressar, é possível que essas habilidades não sejam o suficiente para termos um bom desfecho.

Um dos elementos que interferem diretamente na forma como nos comunicamos são as nossas emoções. Estar tomado por emoções muito intensas prejudica a nossa capacidade de utilizar estratégias úteis conhecidas e de observar o que está acontecendo ao nosso redor e com a outra pessoa que estamos mantendo uma interação. Assim, dependemos da intensidade das nossas emoções para sermos ou não efetivos. Como por exemplo, podemos conseguir ser efetivos nas interações interpessoais quando estamos alegres e dispostos, mas quando sentimos tristeza não conseguimos manter mínimas habilidades de comunicação.

As emoções muito intensas podem nos fazer enxergar apenas os objetivos que temos a curto prazo esquecendo de coisas que são importantes para nós a longo prazo. Posso estar tão irritado que imediatamente termino a relação, porém ao avaliar em um momento mais calmo não era isso que gostaria de fazer, sem conseguir avaliar os prejuízos a longo prazo.

Outro ponto que prejudica a efetividade interpessoal é não saber o que queremos. É muito difícil ter sucesso em uma interação se não temos clareza das nossas intenções ou objetivos. Quando muitas dúvidas e ambivalência estão presentes, a tendência é adotar um estilo de resposta aplicando ele a situações indistintas. Por vezes dizemos sim para tudo e todos, aceitando situações que vão contra os nossos valores ou dizemos não para todas as situações, perdendo oportunidades de novas experiências e crescimento pessoal.

E ainda, temos as ideias pré-concebidas sobre como as relações devem ser, que não correspondem à realidade. Pensamos de forma rígida que ‘as pessoas devem saber o que eu quero’ ou ‘eu não preciso comunicar o que preciso’ ou ainda ‘todo mundo mente’. Esses pensamentos nos desconectam do momento que estamos vivendo e das possibilidades reais de comunicação na relação.

As interações podem ter objetivos diferentes, como obter algo que precisamos ou manter uma relação e as estratégias desenvolvidas no Treinamento de Habilidades em Terapia Comportamental Dialética abarcam essas diferentes necessidades. A partir da identificação dos fatores que estão presentes dificultando as nossas habilidades interpessoais é possível desenvolver habilidades para diminuir esses obstáculos.

Referência: Linehan, M. M. (2018). Treinamento de habilidades em DBT: manual de terapia comportamental dialética para o paciente. Artmed Editora.

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Sobre o Autor
Ana Paula Domeneghini
Psicóloga (PUCRS - CRP 07/23571). Especialista em Terapias Comportamentais Contextuais Baseadas em Processos (CEFI). Especialista em Terapia Sistêmica Individual, Conjugal e Familiar (CEFI). Atua como psicóloga clínica com atendimento individual, familiar e conjugal. Membro da Equipe CEFI Contextus. ver mais

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