Na Trilha com Consciência Plena

 

 

Você já teve a oportunidade de fazer uma trilha numa mata fechada praticando mindfulness? Sim, isso é possível e vou compartilhar aqui minha experiência num espaço de vivências em Três Coroas/RS. Utilizarei como aporte teórico as ideias de Marsha Linehan, sobre “O QUE FAZER”  e  “COMO FAZER” mindfulness.

 

Mindfulness é a qualidade da consciência ou presença que uma pessoa traz à vida cotidiana.  Segundo Linehan (2018) “é o ato de conscientemente focar a mente no momento presente, sem julgamento e sem se apegar ao momento.”   Encontramos como tradução de minfulness a  atenção plena, mas confesso que para mim, estar vivendo dentro dessa filosofia e postura de vida,  é mais que isso, é estar em consciência plena, pois tenho a sensação de maior abertura e possibilidade de ampliação de percepção e autoconhecimento. E foi exatamente isso que aconteceu comigo naquele dia, na trilha…utilizando as 6 habilidades centrais de mindfulness.

 

“O QUE FAZER”

 

OBSERVAR: Experimentar com consciência, no momento, tudo o que estiver acontecendo. Percebendo e notando.

– Como estava caminhando num ambiente desconhecido e com vários obstáculos da própria natureza, meu nível de observação era intenso. Observava o que acontecia dentro de mim ( pensamentos, emoções, sensações, dores)  e fora de mim ( barulhos, cheiros, a beleza da natureza, o que conseguia tatear).

DESCREVER: Descrever eventos e respostas pessoais em palavras.

– Notei a emoção presente: o medo e meus pensamentos: “tu não vais conseguir voltar, é muito íngreme, teu pulmão não está totalmente recuperado da Covid e tu não vais ter ar para subir, vais desmaiar, como vão te socorrer? Sai logo daí, volta enquanto tem tempo”. Enfim meu impulso de ação apegado ao medo e aos meus pensamentos grudentos era desistir, fugir dali.

PARTICIPAR: Participar sem inibição nas atividades do momento atual.

– Notava cada passo dado, o batimento cardíaco se acelerando, o rubor no rosto, o suor e também meu impulso de desistir X meu impulso de continuar, de confiar, de só estar ali presente, participando daquele momento, dando um passo de cada vez, contemplando a natureza, os pássaros, os aromas da mata, o som da cachoeira, sim, minha meta era chegar na cachoeira.

 

“COMO FAZER”

 

ADOTAR UMA POSTURA NÃO JULGADORA: Adotar uma abordagem não avaliativa, não julgar algo como bom ou ruim.

– Percebi minha mente julgadora, quase me dizendo que estava maluca em fazer aquela trilha, que isso era muita inconsequência da minha parte, por outro lado minha mente dizendo que isso era o certo a fazer, me desafiar, perceber meus limites. Até que decidi desapegar do certo e do errado e somente participar da experiência, observando e descrevendo o que ia acontecendo a cada instante.

FAZER UMA COISA DE CADA VEZ: Concentrar a mente e a consciência na atividade do momento atual, em vez de dividir a atenção entre várias atividades.

– E assim fiz uma coisa de cada vez, um passo de cada vez, as paradas necessárias quando percebia o fôlego diminuindo, a contemplação da paisagem, utilizei os 5 sentidos como âncoras e cheguei na cachoeira.

SER EFETIVO: Reduzir a tendência de ficar preocupado em ter razão e, ao invés disso, focar naquilo que é realmente necessário em determinada situação.

– E assim fui efetiva, atingi minha meta. E melhor ainda, fiz o caminho de volta, respeitando meu ritmo interno, desapegando do medo, dos pensamentos invalidantes e da crença que não conseguiria.

 

Sinceramente, não sei se teria conseguido enfrentar tantas barreiras de emoções, pensamentos e crenças, sem me colocar em mindfulness, permitindo essa abertura ao momento presente, sem pressa ou julgamentos. Aceitar minhas limitações pós Covid e abraça-las como parte do meu ser nesse contexto me fez mais inteira e capaz de recuperar a confiança em mim e no meu entorno.

Não foi uma atividade relaxante, pelo contrário, experimentei desconforto, dor, tudo aquilo que faz parte da vida e acolher isso propiciou que fosse uma experiência de   conexão profunda, de grande ampliação de consciência. Envolveu o desenvolvimento da atenção ao momento presente de forma deliberada, intencional, desde uma atitude corajosa de curiosidade e compaixão.

 

Aprender a estar atento no presente pressupõe romper com os processos automáticos e habituais de inflexibilidade atencional (Hayes, 2021). Estar em contato com o momento presente é uma habilidade a ser desenvolvida, é se aproximar das contingências da vida, é conseguir trazer atenção ao momento presente,  mesmo em situações complexas e com isso alcançar e se aproximar da flexibilidade psicológica, sendo capaz de focar no que é importante.

 

E você, tem feito caminhadas pela vida? Quais são suas trilhas? Como tem experimentado viver o momento presente? Se quiseres compartilhar, envie sua mensagem por aqui.

 

 

REFERÊNCIAS:

Linehan, M. (2018). Treinamento de Habilidades em DBT: manual de terapia comportamental dialética para o terapeuta. (2 ed.) Artmed.

Hayes, S., Strosahl, K.  & Wilson, K. (2021). Terapia de Aceitação e Compromisso. O processo e a prática da mudança consciente. Artmed.

 

 

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Sobre o Autor
Vanessa Stechow
Psicóloga (PUCRS). MBA em Gestão de Pessoas com ênfase em Estratégia (FGV/RS), Didata em Dinâmica dos Grupos (SBDG) e qualificação como Analista PDA (Personal Development Analysis). Formação Internacional em Coaching Executivo Organizacional - Metodologia Ontológica Transformacional com Leonardo Wolk, em Líder Coach pelo ICI e The Coaching Clinic – Corporate Coach U. Formação em Coaching de Equ... ver mais

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