FORA DO CONTROLE

Você é daquelas pessoas que adora ter tudo sob controle? Mas, você já reparou que há coisas na vida que estão completamente fora do nosso controle? Mesmo que a gente saiba disso, insistimos em querer definir como as coisas deveriam ser. Eu era nova quando comecei a querer controlar as coisas. Lembro que eu pensava que minha mãe tinha que me deixar sair no carnaval de 2002, mas ela me achava muito nova para isso e não me deixou sair. Eu pensava que as pessoas deveriam ter mais consideração umas pelas outras, era um absurdo (na minha cabeça) quando eu fazia um favor para alguém e depois a pessoa não tomava a iniciativa para me ajudar mesmo sem eu pedir ajuda. As pessoas jogam lixo no chão, mas não se pode fazer isso. As filas demoram para andar, enquanto mentalmente falo “anda logo, não tenho tempo”. No final de semana que vou para praia com planos de tomar sol, chove. Talvez você também tenha uma lista de situações que estão distantes de como você gostaria que fosse.

Com o passar do tempo, vamos nos dando conta que os nossos comandos e desejos não são atendidos. E pode ser que com isso se aprenda que há coisas que não cabe a nós decidirmos. E ainda assim, é provável que mesmo sem a intenção, a gente esteja esperando que “o show deveria ter sido mais longo”, “ela não podia ter falado aquilo” e “eu não deveria me sentir assim” nem “eu não deveria estar pensando nessas coisas”. Coloco entre aspas para ilustrar como escuto minha própria “voz mental”, meus pensamentos, e talvez seja parecido com o que se passa aí dentro de você.

Se já não é fácil aceitarmos que não comandamos a vida dos outros, e que não temos responsabilidade pelo que o outro pensa, sente ou faz, o que lhe parece a ideia de que não controlamos nem mesmo o que se passa dentro nós? Nossos sentimentos, emoções, pensamentos, sensações físicas, eles todos também não ocorrem como e quando queremos, em grande parte do tempo. E para mim, parece que essas coisas são as que eu mais sinto vontade de ter controle, sobre como estou internamente. 

Quando um pensamento desagradável surge repentinamente na cabeça, é difícil soltar, deixar ir, não se apegar. A tentativa de controlar é o que faz com que o pensamento fique. Embora possa não fazer muito sentido autorizar a presença de um pensamento intruso. 

Eu gosto muito da metáfora (que não sei referenciar o autor) que diz que somos como o céu. Um céu azul, que nele nuvens de diferentes formas e cores se formam. Não escolhemos como o céu vai estar, quando irá chover nem se a tempestade será como aquelas de verão, que passam rapidamente, ou se vem acompanhada de um tornado. Mas mesmo quando há nuvens, por mais carregadas que sejam, acima está lá o céu, limpo e azul.

Como seria olhar para sua própria mente como este céu azul, que a cada momento experimenta pensamentos e emoções de diferentes intensidades e formas? Enquanto estivermos presos na ideia de que podemos deixar nosso céu sempre azul, ficaremos presos naquilo que não é como gostaríamos, enquanto o céu simplesmente está lá, por trás de tudo isso.  

Reconhecer que seus pensamentos são apenas pensamentos, assim como nuvens são só nuvens no céu, é uma forma de ganharmos espaço entre nossos impulsos de ação e como reagimos a uma situação. Este é um processo psicológico conhecido como desfusão, que passa a ideia de nos “descolarmos” da nossa experiência, identificando que pensar, sentir e agir são coisas diferentes. 

Você consegue imaginar alguma vantagem nisso? Bem, imagino que possa parecer interessante a ideia de não ficar com pensamentos desagradáveis martelando na sua cabeça, ou se ver capaz de interromper um impulso de ação motivado por um pensamento que o leva para um caminho indesejado, ou quem sabe, não tomar como verdade algo que nem sequer tem como acontecer. Porém, mesmo conseguindo observar pensamentos como pensamentos, eles continuarão causando tudo isso, afinal, há coisas na vida que não podemos controlar. Mas a diferença é que você passa a ter mais clareza sobre o que acontece dentro de você, e isso pode lhe fazer diferença.

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Sobre o Autor
Maria Eduarda D. de Alencastro

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