Ela atrasa minha vida. De verdade. Um trabalho para entregar, uma aula para dar, um jantar para fazer, ou até mesmo uma fala na conversa com amigos… lá vem a perfeição me dizendo que tem que sair tudo clean, perfeito. Assim, este texto será um espaço para eu praticar a imperfeição. Você pode ter desanimado agora e até pensado “Por que diabos ler algo que não estará perfeito?”. Talvez então eu e você não sejamos os únicos com certa dificuldade com a maldita. Fica aqui o meu convite para ler o texto e aprender um pouco com os japa sobre a (im)perfeição.
No Japão temos o conceito de wabi-sabi (não confunda com wasabi, pasta verde utilizada na culinária japonesa, especialmente nos sushis). De acordo com o conceito, a beleza de um objeto está na imperfeição. Ele celebra a transitoriedade, a individualidade e a natureza falha das coisas, o que contrasta com a cultura ocidental, que tende a estar fusionada com a perfeição e a beleza. Para o termo japonês, é isso que torna as coisas únicas, genuínas e belas. As rachaduras no vaso, a mancha de tinta, as folhas sobre a pedra… O wabi-sabi reflete as filosofias budistas, em que a sabedoria se baseia em fazer as pazes com nossa natureza falível.
Seguindo em território japonês, é válido olhar com um pouco mais de atenção para a cultura que originou o termo. Os japoneses são conhecidos por elevar o artesanato a níveis altos, seja na carpintaria, ferragem ou embalagem de produto. A maior ênfase foi colocada no domínio da técnica, e não na perfeição. De lá, surgiu a arte Kintsugi (pronuncie como você quiser), a qual propõe a reconstrução das quebras, fissuras ou fraturas de objetos, preenchendo-os com resina de ouro. Dessa forma, o objeto ganha uma nova aparência, ao mesmo tempo em que mantém as imperfeições aparentes. E essa pratica torna-se única e especial justamente por honrar e ressaltar às cicatrizes, dando continuidade ao trabalho e função e vida para o próprio objeto.
Metaforicamente, essa arte simboliza a estratégia global da Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT). Os prazeres que os feitos alcançados nos geram são ótimos – não dá para negar. Mas que possamos encontrar as virtudes nos fracassos para poder seguir em frente. Toda ação é um passo à frente em relação a onde você se encontrava. Não importa o tamanho do passo ou que você tropece e/ou caia no caminho. O que importa é que você siga caminhando e dê vida para o que você quer.
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