Lira dos 13 anos

“Deteve-se numa adolescência magnífica, cada vez mais impermeável aos formalismos, mais indiferente à malícia e à desconfiança, feliz num mundo próprio de realidades simples.”

Gabriel Garcia Márquez

 

Ao desabrochar do ano de 1994, Macaulay Culkin estreava ao lado de Ted Danson o filme “Acertando as contas com papai”, Guns n’Roses emplacava mais um hit com a regravação da balada “Since I don’t have you”, as camisas flaneladas em xadrez tomavam conta dos jovens muito identificados com o grunge e com Nirvana. O Brasil jogava uma copa de Romário e Bebeto; e eu me encontrava indo morar com minha família na cidade de Santa Maria.
Até então, a experiência na escola de uma pequena cidade interiorana havia sido pouco satisfatória em termos de vínculos. Os grupos já estavam formados e existiam dificuldades para entrar nestes grupos e edificar alianças mais fortes. A chegada a uma cidade de médio porte deu-se juntamente com a aceitação por parte dos colegas de uma nova escola, o surgimento de amizades enriquecedoras e o prazer em estudar muito validado por meus pais e por professores.
O corpo enchia-se de uma emoção e sensação gratificantes, as novas amizades, a adoção de um cachorro que me deu muita alegria, os olhares correspondidos com um colega de classe, a menarca, tudo começou a dividir espaço com notícias não tão favoráveis: os conflitos entre meus pais, o sobrepeso, a não aceitação por parte de um grupo de colegas de escola deram a este período em um colorido apagado e desmotivador.
A adolescência compreende o período transicional entre o estado infantil e o estado adulto, no qual ocorrem transformações físicas, psicológicas e grandes mudanças nos padrões de relação interpessoal. Estas mudanças permitem uma maior independização em relação aos pais e identificação com um grupo, o andar em bando, o surgimento de um comportamento mais desafiador para com os adultos, seja em âmbito familiar ou escolar. Também pode fazer parte deste curto porém complexo momento do desenvolvimento humano o nascimento de condutas mais impulsivas. As emoções tornam-se mais intensas, passionais e vívidas, precipitando muitas vezes situações de conflitos, descontrole e instabilidade emocional, podendo chegar em condições mais adversas e de maior gravidade como condutas agressivas, condutas autodestrutivas e risco de vida.
Ainda que seja uma transformação intensa e por vezes dolorosa, trata-se de um momento importante de crescimento, no qual, ao se experimentar em novos contextos, o jovem vai construindo os contornos de sua identidade, conhecendo seus sentimentos, seus valores e perspectivas diante da vida, de si mesmo e das outras pessoas. Para que esse processo seja bem sucedido, é importante que haja um ambiente que permita que as experimentações ocorram com segurança. Alguns elementos desse ambiente facilitador seriam a compreensão deste humor mais instável por parte dos pais ou responsáveis; a adequação de um ambiente cada vez mais validante e reforçador para os comportamentos saudáveis do adolescente. O aprendizado dessas condutas mais saudáveis envolve o desenvolvimento de habilidades de maior tolerância à frustração, de melhor relação com o outro, de aceitação de condições não mutáveis e primordialmente a aquisição da habilidade de modular melhorar as emoções, regulando a intensidade dos sentimentos. A combinação desses elementos possibilita que o adolescente viva de uma forma melhor e com mais qualidade e, assim como ele, as pessoas que fazem parte de sua rede social.
O Grupo de Treinamento de Habilidades em DBT (Terapia Comportamental Dialética) para adolescentes consiste num curso com duração de 29 semanas no qual são ensinadas aos adolescentes habilidades que lhe permitam viver uma vida que valha a pena ser vivida, com maior qualidade nos vínculos, mais saúde mental e estabilidade. Concomitantemente ao grupo de adolescentes, ocorre o Curso para Pais e Familiares no qual estes aprendem ferramentas para proporcionar e ter uma maior qualidade na relação com o adolescente, fortalecendo relações mais estáveis e saudáveis. Neste curso, os pais vêm a conhecer alguns meios pelos quais poderão proporcionar um ambiente mais acolhedor e intervir ativamente para reforçar o desenvolvimento saudável do adolescente.
Se aos meus 13 anos já existisse o grupo de treinamento de habilidades para adolescentes e eu pudesse participar, creio que a passagem por este hiato conflituoso entre a infância e idade adulta teria sido mais tranquila, teria gerado menos sofrimento e maior qualidade de vida.
Se você é adolescente, pai de adolescente, educador de adolescentes, conheça o Grupo de Treinamento de Habilidades para Adolescentes. Trata-se de uma intervenção com eficácia para transtornos mentais nos quais ocorre desregulação das emoções, como quadros depressivos, dependência de substâncias, transtornos fóbico ansiosos, transtornos de personalidade, transtornos alimentares entre outros. O Grupo ocorre todas as terças feiras das 18h45-20h45 no CEFI.
Entre em contato com o CEFI para maiores informações.

Dica de filme: O Clube dos Incompreendidos (Netflix)

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Sobre o Autor
Cláudia da Rosa Muñoz
CRM 30457 Médica graduada pela UfPel, psiquiatra pela Fundação Universitária Mário Martins, Título de Especialista em Psiquiatria pela Associação Brasileira de Psiquiatria, Curso de Aperfeiçoamento em Terapia Comportamental Dialética pelo CEFI/CIPCO e de Especialização em Terapias Comportamentais Contextuais na mesma instituição. Participou de treinamento intensivo em Terapias Contextuais real... ver mais

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